quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Salvador da Semana

por Taís Pires

O salvador da semana é Gabriel Esper, grafiteiro aqui de Viçosa.  

por Letícia Abelha


Paulista, nascido em Botucatu, mas que morou muito tempo em São José dos Campos, ele vem colorindo as ruas da nossa cidade há quase 7 anos. Agora, formado em história, pela UFV, ele tá pensando em trocar os nossos muros do interior pelas fachadas dos prédios da capital, BH. Vai não, Gabriel. Ou pelo menos, deixe as suas latinhas de spray com a gente.

Olha só a entrevista super bacana que o Salvador Daquí fez com ele!



Como e quando foi seu primeiro contato com o grafite?

Meu primeiro contato com o grafite, acho que foi mais ou menos em 2001. No meu bairro mesmo, lá em São José, a gente tinha um pouco dessa atmosfera. Com  a cultura da pichação,  a gente já mexia com o instrumento que é básico para o grafite, que é o spray.  Então, eu tive contanto um pouco mais cedo, mas com o grafite mesmo, de ver os primeiros murais acontecendo na minha cidade, acho que foi em 2001, 2002. Eu tinha quinze anos.

Quando que você começou a trabalhar com o grafite?

Não foi um processo muito rápido. A expressão de colocar no muro, eu acho que eu já tinha um pouco dessa atitude, mas ainda não fazia desenhos mais elaborados nem tinha um estilo muito próprio. Acho que o primeiro mural que eu fiz, que eu comecei a ter um pouco mais de coragem, foi em 2004. Em 2003, 2004, já tentava alguma coisa ou outra, mas que eu comecei a fazer frequentemente foi de 2005 pra frente.

Como que se deu o processo de transferência da pichação pro grafite?

É porque, igual muita gente fala, a pichação é uma coisa meio da juventude mesmo. Primeiro porque é arriscado e ilegal e também porque você vai ficando mais velho, aí você pára, né. Você tem família e tudo mais. Mas eu conheço muita gente que é da pichação ainda. Eu saí desse meio porque eu tive uns problemas jurídicos, e comecei a grafitar por causa de dois amigos meus que já desenhavam muito lá no bairro onde eu morava. Quando eu vi os murais que eles tinham feito, eu pirei nos desenhos deles, e foi aí que eu comecei a desenhar. Foi muito por causa da influência dos dois. Eu já não via mais muita graça na forma de intervenção da pichação e comecei a achar que o grafite era uma contribuição muito melhor que a gente podia dar.



Um trabalho mais antigo de Gabriel, de quando ele morava lá em São José.

O que faz você se identificar com esse tipo de arte?

Eu acho que é a intervenção urbana mesmo. Eu não conheci nenhuma cena de grafite que não tivesse a cidade como plataforma. Então, acho que o grafite tem essa característica urbana. Na minha cidade, antes de eu vir pra Viçosa, a gente sempre pirava no circuito da cidade, nas formas, em como intervir. E o grafite nasce disse, né, das intervenções que as pessoas fazem na cidade.

Você já sofreu preconceito por causa disso?

Já, já.  Eu dei até uma entrevista um tempo atrás e o rapaz me perguntou isso e se eu tenho apoio e essas coisas. Vou falar pra você que eu comecei a ter apoio há muito pouco tempo. Quando eu comecei, nem dos familiares eu tinha. Minha mãe não gostava muito... Hoje em dia ela gosta, acha massa, reconhece como algo meu, uma identidade minha. Mas, sofria sim. Muito mesmo. Na minha cidade mesmo, onde surgiu tudo isso, a gente passou anos sendo proibidos. Aqui em Viçosa, quando eu cheguei, em 2006, não tinha nenhuma cena ainda. Você via os primeiros traços de intervenção da pichação na cidade, já tinha algumas coisas assim. E quando eu cheguei eu fiquei meio assustado, não queria chegar fazendo, porque não sabia como as pessoas iam interpretar a ação. Mas aí, eu fui aos pouquinhos, fazendo um ali, outro lá, várias pessoas acharam legal e eu comecei a ter um pouco mais de ousadia, ir para outros lugares.  Mas aqui em Viçosa, de verdade, acho que eu não sofri tanto preconceito não. Hostilidade da polícia, nada desse tipo.

"Viva o samba, homenagem ao Candeia" - Viçosa

 Em quê o grafite contribui para o cenário artístico atual?

Eu acho que hoje em dia, ele contribui muito. Imensamente. Você vê toda a produção de arte gráfica, de slogan, os próprios cursos de design gráfico.  A estética do design gráfico atual é muito pautada no grafite. O grafite em si, que a galera faz, ali na rua, onde cada um busca seu estilo próprio, tá alimentando e incentivando um monte de pessoas que produzem informação gráfica. Daqui a uns 20, 30 anos, eu acho que a galera vai olhar pra trás e vai ver o grafite como, talvez, um dos movimentos mais importantes do final do século XX e começo do século XXI.  A cena começa em 1970 e pouco, nos Estados Unidos e na Europa. Chega por volta de 85, 86  aqui no Brasil, junto com o hip hop. E olha a grandeza que atingiu hoje em dia, né. Já se descolou um pouco do hip hop e tá sendo considerado uma arte mesmo, um dom artístico.

 Viçosa é uma boa cidade pra esse tipo de arte de rua?

Particularmente, eu acho. Eu não sou a primeira pessoa em Viçosa que faz um grafite na rua. Nos moldes de grafite mesmo, que a gente conhece, eu sou a primeira. Só que, eu pesquisei,  e tinha murais antes que a galera fazia de pincel,  tem o cara que faz as portas de loja comercial, o Jammil, que pra mim é o grande artista de Viçosa. Ele vem fazendo aerografia, com o compressor e tudo mais.  É diferente, né, a questão, mas um cara que sabe mexer com aerografia, em pouco tempo consegue mexer com spray. Eu acho que Viçosa já tem um pouco dessa intervenção deles na rua, seja comercial ou não.  Eu não tive muito apoio comercial. Tive alguns, não foram zero, mas foram poucos. Mas tenho o incentivo de muita gente pra continuar pintando. Eu acho que a cidade é extremamente receptiva pra essas coisas, eu sempre achei isso de Viçosa. O que falta são pessoas pra colocaram o trabalho delas na rua.

"Big Head e Viciosa" - Viçosa
Quais são suas influências?

Muitas. Inicialmente aqueles dois amigos meus, que hoje em dia são tatuadores. Eles foram minhas grandes influências iniciais.  Mas eu lembro  quando começaram a lançar as primeiras edições de revistas de grafite, e como agente via os trabalhos de outros artistas e se inspirava. Mas não só o grafite, né. O meu trabalho é bem pautado em ilustrações. Eu curto muito a arte oriental, artes plásticas, arte em geral. O estudo da arte alimenta bastante o nosso desenho.

 O que você pretende expressar com o seu trabalho?

Primeiramente, um pouco de mim. Os bonecos que eu já pintei são meus. Basicamente, retratos meus. O meu intuito principal, que eu nunca consegui perder, seja fazendo grafite, seja fazendo colagem ou qualquer outra forma de intervenção, é mostrar pras pessoas que o espaço público é nosso, e que se a gente não cuidar, ele vai continuar vazio, em branco. Eu acho que com os meus desenhos, as minhas ilustrações, eu tento expressar, mais profundamente isso. Que as pessoas  tenham coragem de colocar sua arte e suas ideias na rua, de doar um pouco de si para construir um espaço público de todos que seja mais agradável.

"A Publicidade Mata" - Viçosa

 E por fim, você acha que o grafite salva?

Salva! Salva demais.  Em vários aspectos. Não só no sentido dessa última pergunta, a questão de salvar espaço público, de incentivar as pessoas a exibirem sua arte.  Eu sou testemunha disso. Salva meu dia, me deixa feliz, fez eu me entender. É arte, né. A arte salva sempre.
Se você alguma vez já almoçou no Multiuso, lá na UFV, você com certeza já viu um dos trabalhos do Gabriel!


Se você curtiu o trabalho do Gabriel, lá no facebook e na fanpage dele tem muito mais! 


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