por Taís Pires
por Letícia Abelha
Olha só a entrevista super bacana que o Salvador Daquí fez com ele!
Como e quando foi seu
primeiro contato com o grafite?
Meu primeiro contato com o grafite, acho que foi mais ou
menos em 2001. No meu bairro mesmo, lá em São José, a gente tinha um pouco
dessa atmosfera. Com a cultura da
pichação, a gente já mexia com o
instrumento que é básico para o grafite, que é o spray. Então, eu tive contanto um pouco mais cedo,
mas com o grafite mesmo, de ver os primeiros murais acontecendo na minha
cidade, acho que foi em 2001, 2002. Eu tinha quinze anos.
Quando que você
começou a trabalhar com o grafite?
Não foi um processo muito rápido. A expressão de colocar no
muro, eu acho que eu já tinha um pouco dessa atitude, mas ainda não fazia
desenhos mais elaborados nem tinha um estilo muito próprio. Acho que o primeiro
mural que eu fiz, que eu comecei a ter um pouco mais de coragem, foi em 2004.
Em 2003, 2004, já tentava alguma coisa ou outra, mas que eu comecei a fazer
frequentemente foi de 2005 pra frente.
Como que se deu o
processo de transferência da pichação pro grafite?
É porque, igual muita gente fala, a pichação é uma coisa
meio da juventude mesmo. Primeiro porque é arriscado e ilegal e também porque
você vai ficando mais velho, aí você pára, né. Você tem família e tudo mais.
Mas eu conheço muita gente que é da pichação ainda. Eu saí desse meio porque
eu tive uns problemas jurídicos, e comecei a grafitar por causa de dois amigos
meus que já desenhavam muito lá no bairro onde eu morava. Quando eu vi os
murais que eles tinham feito, eu pirei nos desenhos deles, e foi aí que eu
comecei a desenhar. Foi muito por causa da influência dos dois. Eu já não via
mais muita graça na forma de intervenção da pichação e comecei a achar que o
grafite era uma contribuição muito melhor que a gente podia dar.
Um trabalho mais antigo de Gabriel, de quando ele morava lá em São José. |
O que faz você se
identificar com esse tipo de arte?
Eu acho que é a intervenção urbana mesmo. Eu não conheci
nenhuma cena de grafite que não tivesse a cidade como plataforma. Então, acho
que o grafite tem essa característica urbana. Na minha cidade, antes de eu vir
pra Viçosa, a gente sempre pirava no circuito da cidade, nas formas, em como
intervir. E o grafite nasce disse, né, das intervenções que as pessoas fazem na cidade.
Você já sofreu
preconceito por causa disso?
Já, já. Eu dei até
uma entrevista um tempo atrás e o rapaz me perguntou isso e se eu tenho apoio e
essas coisas. Vou falar pra você que eu comecei a ter apoio há muito pouco
tempo. Quando eu comecei, nem dos familiares eu tinha. Minha mãe não gostava
muito... Hoje em dia ela gosta, acha massa, reconhece como algo meu, uma
identidade minha. Mas, sofria sim. Muito mesmo. Na minha cidade mesmo, onde
surgiu tudo isso, a gente passou anos sendo proibidos. Aqui em Viçosa, quando
eu cheguei, em 2006, não tinha nenhuma cena ainda. Você via os primeiros traços
de intervenção da pichação na cidade, já tinha algumas coisas assim. E quando
eu cheguei eu fiquei meio assustado, não queria chegar fazendo, porque não
sabia como as pessoas iam interpretar a ação. Mas aí, eu fui aos pouquinhos,
fazendo um ali, outro lá, várias pessoas acharam legal e eu comecei a ter um
pouco mais de ousadia, ir para outros lugares.
Mas aqui em Viçosa, de verdade, acho que eu não sofri tanto preconceito
não. Hostilidade da polícia, nada desse tipo.
"Viva o samba, homenagem ao Candeia" - Viçosa |
Em quê o grafite contribui para o cenário
artístico atual?
Eu acho que hoje em dia, ele contribui muito. Imensamente.
Você vê toda a produção de arte gráfica, de slogan, os próprios cursos de
design gráfico. A estética do design
gráfico atual é muito pautada no grafite. O grafite em si, que a galera faz,
ali na rua, onde cada um busca seu estilo próprio, tá alimentando e incentivando
um monte de pessoas que produzem informação gráfica. Daqui a uns 20, 30 anos,
eu acho que a galera vai olhar pra trás e vai ver o grafite como, talvez, um
dos movimentos mais importantes do final do século XX e começo do século XXI. A cena começa em 1970 e pouco, nos Estados
Unidos e na Europa. Chega por volta de 85, 86 aqui no Brasil, junto com o hip hop.
E olha a grandeza que atingiu hoje em dia, né. Já se descolou um pouco do hip
hop e tá sendo considerado uma arte mesmo, um dom artístico.
Viçosa é uma boa cidade pra esse tipo de arte
de rua?
Particularmente, eu acho. Eu não sou a primeira pessoa em Viçosa que faz um grafite na rua. Nos moldes de
grafite mesmo, que a gente conhece, eu sou a primeira. Só que, eu
pesquisei, e tinha murais antes que a
galera fazia de pincel, tem o cara que
faz as portas de loja comercial, o Jammil, que pra mim é o grande artista de
Viçosa. Ele vem fazendo aerografia, com o compressor e tudo mais. É diferente, né, a questão, mas um cara que
sabe mexer com aerografia, em pouco tempo consegue mexer com spray. Eu acho
que Viçosa já tem um pouco dessa intervenção deles na rua, seja comercial ou
não. Eu não tive muito apoio comercial.
Tive alguns, não foram zero, mas foram poucos. Mas tenho o incentivo de muita gente pra continuar
pintando. Eu acho que a cidade é extremamente receptiva pra essas coisas, eu
sempre achei isso de Viçosa. O que falta são pessoas pra colocaram o trabalho
delas na rua.
"Big Head e Viciosa" - Viçosa |
Quais são suas
influências?
Muitas. Inicialmente aqueles dois amigos meus, que hoje em
dia são tatuadores. Eles foram minhas grandes influências iniciais. Mas eu lembro
quando começaram a lançar as primeiras edições de revistas de grafite, e
como agente via os trabalhos de outros artistas e se inspirava. Mas não só o grafite, né. O meu trabalho é bem pautado em ilustrações. Eu curto muito a arte
oriental, artes plásticas, arte em geral. O estudo da arte alimenta bastante o
nosso desenho.
O que você pretende expressar com o seu
trabalho?
Primeiramente, um
pouco de mim. Os bonecos que eu já pintei são meus. Basicamente, retratos meus.
O meu intuito principal, que eu nunca consegui perder, seja fazendo grafite,
seja fazendo colagem ou qualquer outra forma de intervenção, é mostrar pras
pessoas que o espaço público é nosso, e que se a gente não cuidar, ele vai
continuar vazio, em branco. Eu acho que com os meus desenhos, as minhas
ilustrações, eu tento expressar, mais profundamente isso. Que as pessoas tenham coragem de colocar sua arte e suas
ideias na rua, de doar um pouco de si para construir um espaço público de todos que seja mais
agradável.
"A Publicidade Mata" - Viçosa |
E por fim, você acha que o grafite salva?
Salva! Salva demais.
Em vários aspectos. Não só no sentido dessa última pergunta, a questão
de salvar espaço público, de incentivar as pessoas a exibirem sua arte. Eu sou testemunha disso. Salva meu dia, me
deixa feliz, fez eu me entender. É arte, né. A arte salva sempre.
Se você alguma vez já almoçou no Multiuso, lá na UFV, você com certeza já viu um dos trabalhos do Gabriel! |
Viva a Arte de Rua embelezando as ruas de Viçosa :)
ResponderExcluir