quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Salvador da Semana

Por Felipe Pinheiro
O Salvador da Semana é Sérgio Ramos, artista plástico residente em Viçosa.
por Letícia Abelha



Natural de Guaratinguetá, interior de São Paulo, Sérgio Ramos é hoje um artista de renome nacional e com ascendência no reconhecimento mundial de suas obras. Tendo a pintura como carro-chefe do seu trabalho, separa um pouco do seu tempo para projetos de arquitetura, curso no qual é formado, e alguns outros trabalhos envolvendo artes visuais, como desenhos para estampar objetos e produções gráficas digitais.



Em seu currículo consta mais de 50 exposições realizadas em diversas cidades brasileiras e em alguns espaços no exterior, tendo inclusive exposto num evento ocorrido no Carrousel du Louvre, em Paris. Em suas palavras, procura fazer um trabalho que emane positividade, carregando características figurativas em suas pinceladas. Possui uma loja física em viçosa, Atelier do Arquiteto, local que também utiliza como espaço de trabalho, além de exposições fixas em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Goiânia. Ainda no primeiro semestre deste ano inaugura uma galeria própria na província de Algarve, em Portugal.

É com prazer que trazemos a sutileza dos seus traços e a harmonia de suas cores para apresentá-lo aos que ainda não tiveram a oportunidade de se admirar com essa finíssima arte.



Como se deu o seu primeiro contato com a pintura?
Quando eu era criança. Comecei e fui percebendo que estava um pouquinho diferente dos meus amigos. Dos oito para nove anos comecei a desenhar com intenção mesmo, uns personagens de histórias em quadrinhos, desenhando o dia inteiro. Eu falo que todas as crianças desenham, sem exceção. E aquelas que são estimuladas, continuam.
Eu nunca fiz curso. Uma coisa que meus pais falavam era que eu iria criar a minha própria identidade, seu estilo. Achei isso muito interessante. Mais para frente eu fui fazer o curso de arquitetura, que em Campinas, onde formei, é bem voltado para as artes visuais. Na minha época não tinha computador, era tudo a mão, então a gente desenhava bastante. No segundo ano eu fiz a minha primeira exposição, fiz aquarelas gigantes e a própria universidade estimulava as exposições. 
A partir daí vim desenvolvendo a técnica. Desde moleque venho desenhando diariamente.  A mão tem que estar sempre aquecida, né?! Até nas férias eu levo a minha caixa de desenho.

Da onde você costuma busca a sua inspiração?
Eu gosto muito de ler, sou um leitor compulsivo, a literatura é o carro chefe, música também e sempre me inspiro na própria arquitetura. Acredito que essas esferas se inter-relacionam. Em casa eu tenho alguns cadernos que eu vou anotando algumas palavras-chave que vão me inspirar para uma nova obra, uma ideia nova. O mesmo acontece com a música. Uma coisa vai complementando a outra. Adoro os artistas modernistas, adoro desenhar essa coisa do figurativo, meu trabalho é muito figurativo. Eu sempre falo que tem que passar uma mensagem uma história, eu começo e quem está vendo a obra é que termina, dá continuidade.

Alguma das suas exposições em especial te marcou por algum motivo?
Acho que o "Carrousel du Louvre", que foi um encontro de galerias do mundo inteiro que aconteceu em outubro de 2010. Estar junto com todo mundo ali foi muito bacana. Mas cada exposição é especial, cada um é como se começasse do zero, dá aquele friozinho na barriga de novo. Só pela palavra exposição você vê que vai se expor alí, você está aberto a críticas. E o legal nisso é que a reação do público nunca é igual. É impressionante como cada exposição tem a sua característica, lógico que cada uma é num lugar diferente, então as pessoas também, e eu tenho sempre uma surpresa. Pra mim a melhor exposição é sempre a próxima, que eu não fiz ainda.

Como que é hoje o mercado da pintura?
A questão da arte como um todo é complicado em relação a outras profissões. A gente fala que em relação a certas profissões eu faço isso, isso e aquilo e eu vou chegar num lugar, você se programa. E arte não, tem esse "quê" de ser orgânica, tem que saber administrar isso. A própria pintura é a única das artes que você não cobra cachê nem bilheteria. No cinema, na dança, no teatro, num show de música você pagou ali, né?! Agora na exposição não, o artista banca tudo, gráfica, convite, coquetel, tintas, o chassi, o transporte, o seguro... e se não vende nada, e aí?! E tem que se correr esse risco. Tem galeria que às vezes cobra para você expor, pois já tem um nome e tal. Então existe um mercado aí por trás disso, mas o que move a mola é o amor mesmo.

  

Você acha que com a disseminação das artes digitais, a pintura, que é essa arte tão antiga, tende a perder relevância no cenário artístico?
Já tentaram matar a pintura umas mil vezes, mas eu acho que não. Enquanto existir uma caverna e um carvão na mão existe uma pintura ou desenho. Porque é só mais uma ferramenta.  É como você ter uma caixa de giz de cera, se você ganha uma aquarela, tem outra ferramenta, se ganhar uma tinta acrílica já é outra. É um suporte, eu gosto muito do resultado. Mas eu acho que não vai perder espaço não, o sol está aí para todos, né?!

Você definiria o seu estilo de alguma forma? Seus traços, sua inspiração, o sentimento que você aplica sobre suas obras...
Sou chamado de figurativo contemporâneo. Gosto muito do desenho moderno, dos modernistas, tenho uma paixão por essa geração. No meu trabalho, como já disse , tento passar uma história e um sentimento positivo, porque dentro das artes tem a que vai fazer você refletir, tem a arte política, tem a arte que choca, a arte que põe pra baixo. O meu trabalho é para a pessoa se sentir bem. Eu falo que são bombinhas homeopáticas que eu tento colocar e fazer meu papel.

E como você acha que arquitetura influenciou seus traços, enfim, seu produto final?
Eu brinco que a minha própria pintura é muito bem pensada, ela é cartesiana, octogonal. Eu não conseguiria fazer uma coisa totalmente abstrata, totalmente emocional. É 1% inspiração e 99% transpiração. Eu tenho um amigo que diz que você pode pintar 100 telas, dez obras serão  realmente boas e uma ser a obra-prima. Então eu acho que a inspiração me pega trabalhando, não tem esse negócio de esperar bater, baixar o santo, não.  A arquitetura, nesse ponto, tem o lado muito pé no chão, você cria com respaldos. Você busca informação ali, o próprio traço.   

Você está próximo de inaugurar uma galeria em Algarve, Portugal. Fale um pouco sobre o projeto, as expectativas...
Estou muito feliz com essa proposta, com esse novo projeto. Estou com uma representante agora em Algarve, região sul de Portugal e vamos começar a internacionalizar um pouquinho o trabalho. Surgiu essa oportunidade de abrir a galeria, e lá vai ser um espaço com os meus trabalhos mesmo, um espaço exclusivo. A gente está até brincando que o pessoal vai confundir Sérgio Ramos com o jogador espanhol (homônimo). No dia da inauguração, que vai ser agora dia 15 de abril, vamos fazer uma brincadeira e divulgar no dia uma mensagem: “com a presença de Sérgio Ramos”. Propagando enganosa. Vai ser legal porque a Europa é um berço de cultura mesmo, não tem jeito. Eles têm muito mais história que a gente. É um lugar muito inspirador. É o jeito de estar levando o Brasil para fora também, e isso é legal. É interessante porque vai ser um novo público. Eu estou curioso para saber como vai ser isso.  

Aprecie sem moderação:


Por fim, a pintura salva?
Eu acho que a arte salva a vida, como um todo. Sem ela seríamos meros seres autômatos, mecânicos, aquela coisa do dia-a-dia, ela vem para quebrar isso. A pintura é mais singela ainda, porque você tem que estar pré-disposto a ter essa abertura, parar de frente para essa pintura e observar. E ela é uma janela, né?!  Você se transfere um pouco, sai um pouco da sua realidade. Como diz Ferreira Gullar, acho que tem que ter a arte.

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