Por Felipe Pinheiro
O Salvador da Semana é Sérgio Ramos, artista plástico residente em Viçosa.por Letícia Abelha |
Natural de
Guaratinguetá, interior de São Paulo, Sérgio Ramos é hoje um artista de renome
nacional e com ascendência no reconhecimento mundial de suas obras. Tendo a
pintura como carro-chefe do seu trabalho, separa um pouco do seu tempo para
projetos de arquitetura, curso no qual é formado, e alguns outros trabalhos
envolvendo artes visuais, como desenhos para estampar objetos e produções
gráficas digitais.
Em seu
currículo consta mais de 50 exposições realizadas em diversas cidades
brasileiras e em alguns espaços no exterior, tendo inclusive exposto num evento
ocorrido no Carrousel du Louvre, em
Paris. Em suas palavras, procura fazer um
trabalho que emane positividade, carregando características figurativas em suas
pinceladas. Possui uma loja física em viçosa, Atelier do Arquiteto, local que também utiliza como espaço de trabalho, além de exposições fixas em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Goiânia.
Ainda no primeiro semestre deste ano inaugura uma galeria própria na província
de Algarve, em Portugal.
É com prazer que trazemos a sutileza dos seus
traços e a harmonia de suas cores para apresentá-lo aos que ainda não tiveram a
oportunidade de se admirar com essa finíssima arte.
Como se deu o seu
primeiro contato com a pintura?
Quando eu era criança. Comecei e
fui percebendo que estava um pouquinho diferente dos meus amigos. Dos oito para
nove anos comecei a desenhar com intenção mesmo, uns personagens de histórias
em quadrinhos, desenhando o dia inteiro. Eu falo que todas as crianças desenham,
sem exceção. E aquelas que são estimuladas, continuam.
Eu nunca fiz curso. Uma coisa
que meus pais falavam era que eu iria criar a minha própria identidade, seu
estilo. Achei isso muito interessante. Mais para frente eu fui fazer o curso de
arquitetura, que em Campinas, onde formei, é bem voltado para as artes visuais.
Na minha época não tinha computador, era tudo a mão, então a gente desenhava
bastante. No segundo ano eu fiz a minha primeira exposição, fiz aquarelas
gigantes e a própria universidade estimulava as exposições.
A partir daí vim desenvolvendo a
técnica. Desde moleque venho desenhando diariamente. A mão tem que estar sempre aquecida, né?! Até
nas férias eu levo a minha caixa de desenho.
Da onde você
costuma busca a sua inspiração?
Eu gosto muito de ler, sou um
leitor compulsivo, a literatura é o carro chefe, música também e sempre me
inspiro na própria arquitetura. Acredito que essas esferas se inter-relacionam.
Em casa eu tenho alguns cadernos que eu vou anotando algumas palavras-chave que
vão me inspirar para uma nova obra, uma ideia nova. O mesmo acontece com a
música. Uma coisa vai complementando a outra. Adoro os artistas modernistas,
adoro desenhar essa coisa do figurativo, meu trabalho é muito figurativo. Eu
sempre falo que tem que passar uma mensagem uma história, eu começo e quem está
vendo a obra é que termina, dá continuidade.
Alguma das suas
exposições em especial te marcou por algum motivo?
Acho que o
"Carrousel du Louvre", que foi um encontro de galerias do mundo
inteiro que aconteceu em outubro de 2010. Estar junto com todo mundo ali foi
muito bacana. Mas cada exposição é especial, cada um é como se começasse do
zero, dá aquele friozinho na barriga de novo. Só pela palavra exposição você vê
que vai se expor alí, você está aberto a críticas. E o legal nisso é que a
reação do público nunca é igual. É impressionante como cada exposição tem a sua
característica, lógico que cada uma é num lugar diferente, então as pessoas
também, e eu tenho sempre uma surpresa. Pra mim a melhor exposição é sempre a
próxima, que eu não fiz ainda.
Como que é hoje o
mercado da pintura?
A questão
da arte como um todo é complicado em relação a outras profissões. A gente fala
que em relação a certas profissões eu faço isso, isso e aquilo e eu vou chegar
num lugar, você se programa. E arte não, tem esse "quê" de ser
orgânica, tem que saber administrar isso. A própria pintura é a única das artes
que você não cobra cachê nem bilheteria. No cinema, na dança, no teatro, num
show de música você pagou ali, né?! Agora na exposição não, o artista banca
tudo, gráfica, convite, coquetel, tintas, o chassi, o transporte, o seguro... e
se não vende nada, e aí?! E tem que se correr esse risco. Tem galeria que às
vezes cobra para você expor, pois já tem um nome e tal. Então existe um mercado
aí por trás disso, mas o que move a mola é o amor mesmo.
Você acha que com a
disseminação das artes digitais, a pintura, que é essa arte tão antiga, tende a
perder relevância no cenário artístico?
Já tentaram
matar a pintura umas mil vezes, mas eu acho que não. Enquanto existir uma
caverna e um carvão na mão existe uma pintura ou desenho. Porque é só mais uma
ferramenta. É como você ter uma caixa de
giz de cera, se você ganha uma aquarela, tem outra ferramenta, se ganhar uma
tinta acrílica já é outra. É um suporte, eu gosto muito do resultado. Mas eu acho
que não vai perder espaço não, o sol está aí para todos, né?!
Você definiria o
seu estilo de alguma forma? Seus traços, sua inspiração, o sentimento que você
aplica sobre suas obras...
Sou chamado
de figurativo contemporâneo. Gosto muito do desenho moderno, dos modernistas,
tenho uma paixão por essa geração. No meu trabalho, como já disse , tento
passar uma história e um sentimento positivo, porque dentro das artes tem a que
vai fazer você refletir, tem a arte política, tem a arte que choca, a arte que
põe pra baixo. O meu trabalho é para a pessoa se sentir bem. Eu falo que são
bombinhas homeopáticas que eu tento colocar e fazer meu papel.
E como você acha
que arquitetura influenciou seus traços, enfim, seu produto final?
Eu brinco
que a minha própria pintura é muito bem pensada, ela é cartesiana, octogonal.
Eu não conseguiria fazer uma coisa totalmente abstrata, totalmente emocional. É
1% inspiração e 99% transpiração. Eu tenho um amigo que diz que você pode
pintar 100 telas, dez obras serão realmente boas e uma ser a obra-prima. Então
eu acho que a inspiração me pega trabalhando, não tem esse negócio de esperar
bater, baixar o santo, não. A
arquitetura, nesse ponto, tem o lado muito pé no chão, você cria com respaldos.
Você busca informação ali, o próprio traço.
Você está próximo
de inaugurar uma galeria em Algarve, Portugal. Fale um pouco sobre o projeto,
as expectativas...
Estou muito
feliz com essa proposta, com esse novo projeto. Estou com uma representante
agora em Algarve, região sul de Portugal e vamos começar a internacionalizar um
pouquinho o trabalho. Surgiu essa oportunidade de abrir a galeria, e lá vai ser
um espaço com os meus trabalhos mesmo, um espaço exclusivo. A gente está até
brincando que o pessoal vai confundir Sérgio Ramos com o jogador espanhol
(homônimo). No dia da inauguração, que vai ser agora dia 15 de abril, vamos
fazer uma brincadeira e divulgar no dia uma mensagem: “com a presença de Sérgio
Ramos”. Propagando enganosa. Vai ser legal porque a Europa é um berço de
cultura mesmo, não tem jeito. Eles têm muito mais história que a gente. É um
lugar muito inspirador. É o jeito de estar levando o Brasil para fora também, e
isso é legal. É interessante porque vai ser um novo público. Eu estou curioso
para saber como vai ser isso.
Aprecie sem moderação:
Por fim, a pintura
salva?
Eu acho que
a arte salva a vida, como um todo. Sem ela seríamos meros seres autômatos,
mecânicos, aquela coisa do dia-a-dia, ela vem para quebrar isso. A pintura é
mais singela ainda, porque você tem que estar pré-disposto a ter essa abertura,
parar de frente para essa pintura e observar. E ela é uma janela, né?! Você se transfere um pouco, sai um pouco da
sua realidade. Como diz Ferreira Gullar, acho que tem que ter a arte.
Boa sorte e um baita beijo nas panelas por ai !
ResponderExcluirJP