por Taís Pires
por Leticía Abelha |
Estudante de Letras, Julia Fagundes, a Julieta de Vênus, mexe com design gráfico há quase 5 anos. E foi com ela que o Salvador conversou essa semana para saber um pouco mais sobre essa arte de tempos modernos.
Por que Julieta de Vênus?
Eu tenho a idade da Terra, sou de Vênus e estou aqui em Viçosa porque eu
não tenho tecnologia o suficiente pra voltar pro espaço. Gosto de arte como gosto de nomes. A gente usa o nome pra se
identificar, eu me abstenho de identidade. Aliás, uso meu nome pra identificar
meu projeto artístico e muitas vezes intelectual. A Julieta de amores
platônicos e delirantes consome a arte até a última gota depois passa pra outra
coisa com a mesma intensidade de morte. Shakesperiano, medieval e greco-romano.
Vênus, planeta da mulher, das sete fases da lua, da menstruação, das bruxas assadas na fogueira, das guerreiras não lembradas, da história queimada e tantas outras anulações que a mulher sofreu ao longo da história. Porque tenho uma lado intelectual que se interessa, principalmente, pela história da mulher.
Vênus, planeta da mulher, das sete fases da lua, da menstruação, das bruxas assadas na fogueira, das guerreiras não lembradas, da história queimada e tantas outras anulações que a mulher sofreu ao longo da história. Porque tenho uma lado intelectual que se interessa, principalmente, pela história da mulher.
Quando e como você começou a mexer com design gráfico?
Comecei a trabalhar com design gráfico em 2008, na época do CineArte Delírius (um movimento artístico que acontecia no Porão da UFV). Na época, eu produzia zines também para suprir a demanda literária do evento. Depois disso, voltei a fazer artes gráficas para o projeto de cinema que eu havia conseguido implantar na cidade em 2011. Em 2012 me integrei ao Coletivo 103 e irresponsabilizei-me de fazer as peças gráficas para os eventos.
Arte: Trabalho para a Revista Noize de SP
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Minha grande influência é o movimeto marginal: literatura marginal,
cinema marginal, música marginal, pessoas marginais. As pessoas que estão à
margem são minha grande inspiração: as mulheres, os negros, os proletários, a
gente que passa. O músico de rua, o estêncil político, os grupos mambembes, o
cinema sem dinheiro, a literatura de buteco, esse tipo de manifestação que esta
aí pra romper com o padrão, pra libertar a gente simples com a nossa liberdade,
pra plantar qualquer coisa de verde.
Qual a diferença de um
desenho que você faz pra você e de um desenho que você cria para os cartazes
dos eventos?
A diferença entre os meus desenhos e o meu trabalho como design é que eu
não sei desenhar. Mas e daí?? Desenhar é esfregar qualquer coisa sobre uma
superficie. Bonito ou feio é questão pessoal. O Van Gogh só vendeu 2 quadros em
vida, achavam-no tosco e infantil. Tenho esperança de um dia desenhar.
Arte: Estação Cinema - Recuperando os Trilhos |
Você acha que o fato de ser
uma arte bastante comercial faz com que o design gráfico perca um pouco do
caráter artístico?
Qualquer arte pode ser bastante comercial, veja o caso do Romero Britto.
Não acho que o fato de alguém estar ganhando muito dinheiro com a arte, faz com
que ela perca o valor artístico. Aliás a arte não precisa estar moldurada, não precisa
estar numa galeria, não precisa ser considerada arte por ninguém pra ser arte.
A arte está nos olhos de quem vê.
Existe preconceito com a arte
digital?
Existe preconceito nas pessoas, um excesso de valorização dos
"profissionais" da arte. Mas tenho uma visão muito positiva da coisa,
tudo está se mesclando, a relatividade tomou conta do humano. A antropofagia
convenceu. Fotografia e pintura já não se diferem pela exatidão do traço,
música e cinema fazem um lindo amor. Arte na rua ou na academia é tudo lindo e
maravilhoso. O digital e o manual, afinal, quem controla o mouse é o humano,
não é? Esse medo do digital na vida moderna é coisa de moderno, nós a superamos
em 2011, essa visão pálida das coisas. Estamos prontos pra ver mais cores
explodindo, novos ideais surgindo e conceitos reformulados.
Arte: Evento do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros de Viçosa |
Em que a arte gráfica e
digital, por ser tipicamente moderna e diretamente relacionada com tecnologia,
se diferencia das outras formas de arte?
Como a tecnologia tomou conta da nossa vida, de forma que corações
artificiais já estão implantados, a arte digital vem pra facilitar o acesso e a
produção de arte através do acesso ao computador e da internet, pois elas
também podem ser ferramentas para a construção de uma arte manual como a
utilização de projeção (técnica do Vick Muniz) ou para transformar uma imagem
em estêncil Os lambe-lambes (postêr artisticos colados na rua) podem ser feitos
com spray, guache e estêncil, mas também podem ser digitalizados, vetorizados e
reproduzidos em série pelas fotocopiadoras.
O que mais te faz identificar
com esse tipo de arte? E o que ela representa pra você?
Me identifico com arte em geral. Eu sou inconstante, mas a arte é a
única que passa ilesa, se transforma mas não sai de foco. Às vezes descambo pro
cinema ou escorrego pra fotografia, eu adoraria esculpir mas não tenho
ferramentas. O design é a arte mais acessível, basta um computador e alguns
programas rackeados na internet.
Arte: Trabalho de divulgação da Semana do Audiovisual de Viçosa do ano passado |
O curso que você faz não tem
muito a ver com essa área de artes gráficas. Você nunca pensou em seguir
carreira, como designer gráfica formada?
Tenho a impressão que assumir a arte em nossas vidas é uma luta árdua
contra tudo. Muitas vezes não há apoio e sendo arte uma atividade cara, ficamos
perdidos nesse cenário, esperando algum dia alguém perceber que vale a pena
investir. No meu caso, continua sendo difícil investir, o planeta Viçosa é
carente de recursos e apoios. Pra continuar aqui na companhia de filha e amigos
queridos optei pela arte que me cativou primeiro: a literatura. No caso de
continuar um próspero desenvolvimento artístico fiquei com o francês, uma
língua e um país com grande capacidade pra receber e ensinar artistas.
Arte: Noite Fora do Eixo de Cajazeiras, na Paraíba |
E pra você, o design gráfico
salva?
O design salva a vida do tédio.
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