sábado, 9 de fevereiro de 2013

Salvador da Semana


por Taís Pires


Quem tá salvando essa semana, é Julieta de Vênus, artista gráfica nascida em Montes Claros, e que estuda e mora em Viçosa.
por Leticía Abelha


Estudante de Letras, Julia Fagundes, a Julieta de Vênus, mexe com design gráfico há quase 5 anos. E foi com ela que o Salvador conversou essa semana para saber um pouco mais sobre essa arte de tempos modernos.



Por que Julieta de Vênus?
Eu tenho a idade da Terra, sou de Vênus e estou aqui em Viçosa porque eu não tenho tecnologia o suficiente pra voltar pro espaço. Gosto de arte como gosto de nomes. A gente usa o nome pra se identificar, eu me abstenho de identidade. Aliás, uso meu nome pra identificar meu projeto artístico e muitas vezes intelectual. A Julieta de amores platônicos e delirantes consome a arte até a última gota depois passa pra outra coisa com a mesma intensidade de morte. Shakesperiano, medieval e greco-romano.  
Vênus, planeta da mulher, das sete fases da lua, da menstruação, das bruxas assadas na fogueira, das guerreiras não lembradas, da história queimada e tantas outras anulações que a mulher sofreu ao longo da história. Porque tenho uma lado intelectual que se interessa, principalmente, pela história da mulher.

Quando e como você começou a mexer com design gráfico? 
Comecei a trabalhar com design gráfico em 2008, na época do CineArte Delírius (um movimento artístico que acontecia no Porão da UFV). Na época, eu produzia zines também para suprir a demanda literária do evento. Depois disso, voltei a fazer artes gráficas para o projeto de cinema que eu havia conseguido implantar na cidade em 2011. Em 2012 me integrei ao Coletivo 103 e irresponsabilizei-me de fazer as peças gráficas para os eventos.

Arte: Trabalho para a Revista Noize de SP

Quais são suas inspirações e de onde você tira suas influências?
Minha grande influência é o movimeto marginal: literatura marginal, cinema marginal, música marginal, pessoas marginais. As pessoas que estão à margem são minha grande inspiração: as mulheres, os negros, os proletários, a gente que passa. O músico de rua, o estêncil político, os grupos mambembes, o cinema sem dinheiro, a literatura de buteco, esse tipo de manifestação que esta aí pra romper com o padrão, pra libertar a gente simples com a nossa liberdade, pra plantar qualquer coisa de verde.


Qual a diferença de um desenho que você faz pra você e de um desenho que você cria para os cartazes dos eventos?
A diferença entre os meus desenhos e o meu trabalho como design é que eu não sei desenhar. Mas e daí?? Desenhar é esfregar qualquer coisa sobre uma superficie. Bonito ou feio é questão pessoal. O Van Gogh só vendeu 2 quadros em vida, achavam-no tosco e infantil. Tenho esperança de um dia desenhar.

Arte: Estação Cinema - Recuperando os Trilhos


Você acha que o fato de ser uma arte bastante comercial faz com que o design gráfico perca um pouco do caráter artístico?
Qualquer arte pode ser bastante comercial, veja o caso do Romero Britto. Não acho que o fato de alguém estar ganhando muito dinheiro com a arte, faz com que ela perca o valor artístico. Aliás a arte não precisa estar moldurada, não precisa estar numa galeria, não precisa ser considerada arte por ninguém pra ser arte. A arte está nos olhos de quem vê.

Existe preconceito com a arte digital?
Existe preconceito nas pessoas, um excesso de valorização dos "profissionais" da arte. Mas tenho uma visão muito positiva da coisa, tudo está se mesclando, a relatividade tomou conta do humano. A antropofagia convenceu. Fotografia e pintura já não se diferem pela exatidão do traço, música e cinema fazem um lindo amor. Arte na rua ou na academia é tudo lindo e maravilhoso. O digital e o manual, afinal, quem controla o mouse é o humano, não é? Esse medo do digital na vida moderna é coisa de moderno, nós a superamos em 2011, essa visão pálida das coisas. Estamos prontos pra ver mais cores explodindo, novos ideais surgindo e conceitos reformulados.

Arte: Evento do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros de Viçosa


Em que a arte gráfica e digital, por ser tipicamente moderna e diretamente relacionada com tecnologia, se diferencia das outras formas de arte?
Como a tecnologia tomou conta da nossa vida, de forma que corações artificiais já estão implantados, a arte digital vem pra facilitar o acesso e a produção de arte através do acesso ao computador e da internet, pois elas também podem ser ferramentas para a construção de uma arte manual como a utilização de projeção (técnica do Vick Muniz) ou para transformar uma imagem em estêncil  Os lambe-lambes (postêr artisticos colados na rua) podem ser feitos com spray, guache e estêncil, mas também podem ser digitalizados, vetorizados e reproduzidos em série pelas fotocopiadoras.

O que mais te faz identificar com esse tipo de arte? E o que ela representa pra você?
Me identifico com arte em geral. Eu sou inconstante, mas a arte é a única que passa ilesa, se transforma mas não sai de foco. Às vezes descambo pro cinema ou escorrego pra fotografia, eu adoraria esculpir mas não tenho ferramentas. O design é a arte mais acessível, basta um computador e alguns programas rackeados na internet.

Arte: Trabalho de divulgação da Semana do Audiovisual de Viçosa do ano passado


O curso que você faz não tem muito a ver com essa área de artes gráficas. Você nunca pensou em seguir carreira, como designer gráfica formada?
Tenho a impressão que assumir a arte em nossas vidas é uma luta árdua contra tudo. Muitas vezes não há apoio e sendo arte uma atividade cara, ficamos perdidos nesse cenário, esperando algum dia alguém perceber que vale a pena investir. No meu caso, continua sendo difícil investir, o planeta Viçosa é carente de recursos e apoios. Pra continuar aqui na companhia de filha e amigos queridos optei pela arte que me cativou primeiro: a literatura. No caso de continuar um próspero desenvolvimento artístico fiquei com o francês, uma língua e um país com grande capacidade pra receber e ensinar artistas.

Arte: Noite Fora do Eixo de Cajazeiras, na Paraíba


E pra você, o design gráfico salva?
O design salva a vida do tédio.



Para quem quiser conhecer mais do trabalho da Julieta ou entrar em contato, o facebook dela tá aqui.



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